Quais são as contraindicações ou complicações associadas ao uso da terapia compressiva no linfedema?


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Quais são as contraindicações ou complicações associadas ao uso da terapia compressiva no linfedema?


  • Postado em: 10/12/2022 às 08:00
  • Autor: Dra. Anke Bergmann

Quais são as contraindicações ou complicações associadas ao uso da terapia compressiva no linfedema?

Primeiro, precisamos deixar claro algumas coisinhas...

O linfedema é um edema crônico, que ocorre como consequência de alguma condição clínica que leva a uma sobrecarga do sistema linfático.

Antes de tratar o edema, precisamos saber qual a sua CAUSA. Dependendo da causa, não podemos tratar a consequência (no caso o edema)

Uma vez definido que é linfedema, a terapia compressiva é a principal forma de tratamento. Mas precisamos avaliar as condições associadas e a presença de comorbidades.

Esse consenso internacional propôs recomendações quanto as contraindicações e aos efeitos adversos com o uso de terapias compressivas com malhas, dispositivos de velcro ou enfaixamentos (bandagens).

Destaco nesse post, as principais recomendações...

Riscos de complicações com o uso da terapia compressiva

Todo paciente que recebe terapia de compressão deve ser rastreado para condições que aumentam o risco de complicações e todo material de compressão deve ser verificado quanto ao ajuste e aplicação adequados. As contraindicações para o tratamento de compressão devem ser consideradas para diminuir o risco de efeitos adversos.

Irritações e reações alérgicas

Os cuidados com a pele são necessários para evitar irritação da pele em pacientes com hipersensibilidade cutânea.

Para prevenir reações alérgicas na pele devido aos materiais de compressão, deve-se evitar materiais feitos com substâncias alergênicas e corantes.

Ocorrência de dor e desconforto 

Em pacientes com desconforto e/ou dor abaixo dos materiais de compressão, recomenda-se verificar a indicação correta, nível de pressão, material ou técnicas de bandagem, bem como a colocação e retirada correta dos materiais compressivos.

Edema ou linfedema no pé

 Nos pacientes com edema no pé ou dedos do pé devem considerar alguma forma de compressão incluindo essas regiões.

Infecções bacterianas ou fúngicas

Em pacientes com infecções bacterianas ou fúngicas, é recomendado considerar tratamento com antissépticos tópicos ou medicamento antimicrobiológico.

Em pacientes com sintomas sistêmicos (febre, calafrios), erisipela ou celulite, instituir tratamento sistêmico. Em outros casos de sintomas sistêmicos, ferimentos locais graves e infecção tecidual, a decisão sobre o tratamento adicional deve ser individualizada e com base na avaliação da condição local e geral do paciente.

Se tiver suspeita que a aplicação de compressão ou do material utilizada esteja contribuindo para a infecção, avaliar a modificação do material de compressão.

Lesão mecânica no membro causado pela terapia compressiva

De acordo com a Lei de Laplace, a pressão local abaixo do material de compressão pode ser maior do que o esperado em proeminências ósseas e tendões, como acima dos tornozelos, na tíbia, na cabeça da fíbula ou acima dos tendões, como o tendão de Aquiles.

Para evitar lesão na pele, necrose ou lesões nervosas, é necessário proteger essas regiões (tendões, nervos e ossos) da alta pressão inapropriada, particularmente em pacientes com pele sensível: Inserindo materiais de espuma macios na região; Usar menor pressão; Fazer as medidas de circunferência apropriadas para definir a prescrição do material de compressão mais adequado para aquele formato de membro.

São ainda necessárias precauções específicas (acolchoamento, cuidados especiais de ajuste, baixa pressão) em pacientes com neuropatia, alteração da sensibilidade e pacientes idosos com pele frágil e atrófica (dermatoporose).

Pacientes com doença arterial obstrutiva periférica (DAOP)

Os pacientes com DAOP apresentam bloqueio ou estreitamento de uma artéria nas pernas (ou, raramente, nos braços), geralmente devido a aterosclerose e resultando em diminuição do fluxo sanguíneo

Nesses casos, é recomendado verificar o estado da circulação arterial antes de iniciar qualquer tipo de terapia de compressão. Se o pulso do pé e/ou pulso do tornozelo for fraco ou não palpável, deve ser avaliado o índice tornozelo-braquial (ITB) (calculado pela razão da pressão sistólica da artéria braquial direita ou esquerda - o maior valor - com a pressão sistólica das artérias maleolares tibial anterior ou tibial posterior - o maior valor).

A DAOP grave (pressão sistólica do tornozelo <60 mmHg, pressão do pé <30 mmHg) é uma contra-indicação da terapia de compressão com malhas compressivas.

Em todo paciente com perfusão prejudicada do membro inferior (ITB <0,9), o efeito clínico do uso das malhas compressivas no suprimento de sangue da perna deve ser cuidadosamente monitorado. Se a situação não for reconhecida, existe a possibilidade de desenvolver rachaduras na pele que não cicatrizam, mesmo com uso de malhas compressivas de baixa pressão.

Após cirurgia de bypass com melhora das pressões arteriais periféricas, o uso de malhas compressivas pode ser realizado após cuidadosa prescrição.

Risco de tromboembolismo venoso associado ao uso de terapia compressiva

A compressão não é uma contra-indicação em condições tromboembólicas após a fase aguda, pois ajuda a reduzir a dor e edema após a trombose venosa profunda.

As complicações tromboembólicas associada ao uso de terapias compressivas são raras e podem ocorrer em pacientes com varizes, principalmente em regiões onde poderiam exercer um efeito de torniquete.

Devido ao efeito torniquete, a compressão inadequada pode causar tromboembolismo venoso superficial, especialmente após longos períodos sentado (vôos de longo curso).

Para prevenir complicações tromboembólicas, é recomendado  evitar períodos prolongados de inatividade física durante o uso de terapias compressivas.

Insuficiência cardíaca e terapia compressiva

A insuficiência cardíaca por si só não constitui contraindicação para terapia de compressão. Nos estágios mais avançados, a terapia compressiva é contraindicada ou seu uso deve ser cuidadoso e com monitorização clínica e hemodinâmica.

Em pacientes com edema e insuficiência cardíaca leve, é recomendado iniciar a terapia de compressão com pressão reduzida em uma perna e progredir lentamente a uma pressão mais forte aplicada em ambas as pernas.

Considerações finais

A adequada prescrição das terapias compressivas é fundamental para  prevenir efeitos adversos e complicações oriundas do seu uso.

A qualidade dos materiais utilizados é um dos principais fatores associados as complicações. Fique atento e escolha materiais de boa qualidade.

Quando bem prescrita, a aderência a terapia compressiva é a chave do sucesso na redução e controle do linfedema

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